terça-feira, 1 de junho de 2004

[Quem não pode]

"Quem não pode comer tem de

fumar e nós não temos
o que fumar: vamos pá

vamos dormir
quem não pode fumar tem de

Cantar e nós não temos

o que cantar; vamos pá
vamos dormir ..."

[E.E. Cummings]

À Volta da Blogosfera

Em hors-série, num retorno de agradecimento algo tardio, daqui arremessamos ao Absurdo, Abrupto, Cruzes Canhoto, Estrada do Coco, Impensável, Letteri Café e Respublica um muito obrigado pela lembrança do nosso aniversariado. Saudações enternecidas.

A arte de Pedro Mexia, atrevidamente curiosa, deixava-se apalpar no salão do Dicionário do Diabo. Acontece que a alvorada Mexiana mudou para livro impresso, in-fólio qualquer coisa, numa pragmática do luxo que desvaneceu o espaço blogosférico. O Dicionário será encerrado (dizem!) mas Pedro Mexia resplandecerá, pastoreando (des)contentamentos vigorosos e esgrimindo graciosas aguarelas urbanas, no Fora do Mundo. Lá estaremos em visitação extraordinária.

[a propósito de crónicas, escritos, trabalhos jornalísticos & bloguísticos, em louvor e capricho de Pedro Mexia]:

"Do jornalismo, não conheço melhor definição que a de Rubem Braga, admirável cronista de um país que tem na crónica a expressão mais literária e pessoal da Imprensa:«O jornalismo é a arte superior de se morrer todos os dias»
Eis aqui resumida a condição precária dos escritos jornalísticos, que são de algum modo o que é a mesma vida, tanto como ela se confundem. Não morremos também nós todos os dias, e sem que façamos da nossa morte uma arte superior? O jornalismo vive intensamente a hora que passa e, na pressa do dia-a-dia, o hoje é amanhã um ontem já caduco, como as folhas impressas que são já folhas mortas, varridas por um melancólico vento de Outono (...) Estes escritos não são como o vinho de boa casta, tanto melhor quanto mais velho. (...)
A crónica, que no século passado se chamou folhetim e depois recebeu o nome de prosa de arte, a crónica é que concede uma como que perenidade à Imprensa, libertando-a do que ela tem de imediato, de precário, de sensacionalista ou de superficial. Essa crónica ou prosa de arte é como o vento do espírito soprando onde quer - mesmo onde o espírito parece ausente. (...)
Escritores individualistas, voltam-se para si mais do que para outros. São eles próprios a matéria dos seus escritos e, se tivessem maior sentido de equilíbrio, seriam discípulos de Montaigne, oscilando entre contrários, contradizendo-se porque a contradição está inscrita na natureza humana, coerentes enquanto crêem profundamente na impressão ou na emoção do momento em que escrevem. O eu, o moi, não lhes é odioso, embora odiosa, ou pelo menos insuportável, lhes seja por vezes a vida. (...) Esses escritos, que dir-se-ia condenados à sorte precária dos mesmo jornais que os hospedaram, resistiram ao tempo quando publicados em livro, não pela maior longevidade do livro, mas porque traziam em si as condições de sobrevivência: a cultura, a perspicácia da observação, o sal da ironia critica, a graça do estilo (...)"

[João Bigotte Chorão, Camilo e o jornalismo literário do século XIX, in Prelo, 18]

segunda-feira, 31 de maio de 2004


Walt Whitman [1819-1892]

n. em Long Island a 31 de Maio de 1819

"Nasceu em Long Island ... quem seria o maior poeta da América, e um dos mais originais e corajosos poetas líricos da poesia universal. Os seus costumes, a sua franqueza, o seu erotismo, o seu radicalismo político, a sua expressão anaforicamente tumultuária e repetitiva, o seu gosto das apóstrofes e das enumerações, o seu verso esplendidamente livre, é muito escândalo junto para ele ser o poeta nacional que ninguém foi como ele, ainda que muito mais crença na democracia que por nacionalismo. (...) Vivendo de empregos ocasionais, jornalista frustado (mas as suas reportagens da Guerra Civil da Secessão são obras primas), Whitman foi um Verlaine sem senso de pecado, e com um sentido de grandeza e da magestade do mundo e da vida, que Verlaine não teve.(...) [Jorge de Sena, in Poesia de 26 Séculos]

"... De aqui de Portugal, todas as épocas no meu cérebro,
Saúdo-te, Walt, saúdo-te, meu irmão em Universo,
Eu, de monóculo e casaco exageradamente cintado,
Não sou indigno de ti, bem o sabes, Walt,
Não sou indigno de ti, basta saudar-te para o não ser...
" [Álvaro de Campos]

"Ainda mais coragem, meu irmão ou irmã
Não vaciles - a Liberdade tem de ser servida, haja o que houver;
Que importa que ela falhe uma vez, ou duas vezes, ou muitas vezes
Ou seja ferida pela indiferença ou ingratidão do povo ou pela infidelidade
Ou pelo aparato das mordaças do poder, soldados, canhões, códigos penais.

Aquilo em que nós cremos aguarda latente em todos os continentes,
A ninguém convida, não promete nada, repousa em calma e claridade.
[é teimoso e tranquilo, não conhece o desanimo,
Esperando com paciência, esperando a sua hora ..."

[WW, A Um Revolucionário Europeu Vencido, trad. Jorge de Sena]

Jogo-Libertinagem

"... Jogo-libertinagem. Na biografia do autêntico libertino Laclos par Lui-Même, Vaillant [Roger Vaillant] anota:
«A libertinagem é um jogo dramático com figuras bem determinadas (...) Jogo de sociedade, jogo rigoroso como o xadrez, jogo dramático como a tourada»
Exemplos práticos encontram-se nas páginas de Stendhal, de Laclos, Casanova, nas cenas de sedução da marquesa de B... em Vida e Aventura do Cavaleiro de Faublas. E em Vaillant:
- na Cabra-Cega. O encontro amoroso Annie-Marat principia e acaba num esquema clássico de «geometria sentimental» à Laclos. «Jogo de mão, jogo de vilão» diz Marat ao iniciar a corte à devota amiga (...)
Vaillant afirma em Les Mauvais Coups que «os amantes autênticos nunca são desvairados de paixão». E em Laclos: «O libertino não cede à carne, satisfá-la deliberadamente» (...) Um libertino é por definição homem da liberdade; para ele «o comportamento à roleta é o mesmo que na vida» (Milan, em Les Mauvais Coups) ..."

[José Cardoso Pires, in prefácio ao livro de Roger Vaillant, Cabra-Cega, Ulisseia, 1959]

Tédio por Lisboa

"A pedra abre a cauda de ouro incessante, / só a água fala nos buracos" [HH]

Nada de calúnias sobre Lisboa. A reprimenda que se pode fazer ao longo da peregrinação pela cidade, deixemo-la aos seus cidadãos. Dizem alguns que as cidades que mais amamos "são aquelas que nunca vimos". Pode ser, não sabemos. Mas, entre aquelas que estimamos chega um dia em que o encanto se quebra. Lisboa espraia-se no irrisório da paisagem, por entre ruas e casas a cair de tédio, vielas sujas mutiladas por pessoas tristonhas e impotentes, pacientemente cotejando modernidades mil, que tardam a acudir. Mas basta soletrar o seu nome, para fazer evocar a sua soberba embebida em história lavrada que nenhum olhar consegue esquecer. Mas, regressamos ... sempre. Como se silenciosamente bordássemos um corpo lânguido de mulher.

Fora isso ... a romagem ao Chiado e Bairro Alto foi admirável. Não tínhamos entrado no mundo. Evidentemente, "le centre du monde est partout e chez nous" [Eluard]

domingo, 30 de maio de 2004


[A propósito do Rock in Rio- Lisboa]

"O cheiro de rosas velhas e tabaco
Faz-me recordar.
Há quase vinte anos
Que não te vejo
E prossegue o nosso meio amor.

Deixaste-me isto:
Esta mão, entreaberta, imóvel
Sobre uma colcha verde.
Coisa bastante para erguer
Alguns poemas de melancolia.

Tivesse eu então tocado em ti
Talvez um de nós sobrevivesse."

[Ian Hamilton, Epitáfio]
Leilão de Livros e Desenhos Gravuras e Manuscritos
da Biblioteca Salema Garção
[conclusão]

Algumas referências: Beja, sec. XVI (mans sobre pergaminho com inf. sobre bens do concelho de Beja, refª a moradores e proprietários em Moura, Alvito e Cuba) / Campo Maior, sec. XVI (mans sobre pergaminho da demarcação da vila de Campo Maior feita por Mendo Afonso) / O Beijo do Diabo, de João de Andrade Corvo (Mans autógrafo datado de 7 de Julho de 1861) / Elementos de Direito Publico de Portugal, por Ricardo Nogueira, sec. XVIII (trata-se prov. das Prelecções de Direito Pátrio que fez no ano lectivo de 1795 e 1796 Ricardo Raimundo Nogueira, natural do Porto, lente da Faculdade de Leis e Reitor do Colégio dos Nobres de Coimbra, que vieram a ser publicadas no Instituto, vol. III) / Correspondência dirigida ao 5º Conde das Galveias, sec. XVIII e XIX (100 docum.) / Apontamentos sobre Valentim Fernandes e outros Impressores, sec. XIX (texto manuscrito, prov. copiado de documentos da Torre do Tombo, com reª a Valentim Fernandes, Jacob Cromberger, João Pedro de Cremona, Germão Galhardo, João Blávio, Frutuoso Pires, João Barreira, Francisco Correia e António de Mariz / Manuscrito Monástico, redigido em português e latim, sec. XVII, de Frei José de Mendonça, onde se refere os formulários de juramentos e outros actos cerimoniais da Ordem de Cister / Mercúrio de Lisboa, 1745-1746, 54 nums (trata-se de um periódico redigido e copiado à mão, em pequeno numero e exempls, com distribuição localizada de autor desconhecido) / Livro de Orações em louvor do Profeta Maomé, 1765 (mans do Médio Oriente redigido em Árabe, com anotações marginais, datado de 1143, ...) / Pinhel, sec. XV (mans sobre pergam de uma escritura de venda de uma courela de terra no Prado de Mó, Pinhel, entre particulares cristãos (João Afonso e Isabel Esteves) e judeus (Samuel Venazo e Çimaha [ilegível]), datado de 1469 / Tavares, Mangualde (mans sobre pergam da confirmação da compra por D. Fernando Coutinho, marechal do Conselho de D. Afonso V, da terra de Tavares) / Cartas de Reis e Infantes de Portugal e outros documentos importantes, cartas manuscritas, alvarás, requerimentos, mans vários (D. Manuel II, D. Luís I, D. Carlos, D, Maria II, D. Miguel, D. João VI, D. Maria I, D. José I, Marquês de Pombal, D. Pedro II, Filipe II, Filipe IV, D. Sebastião) / Alvará do Infante D. Henrique ..., aos juízes e homens-bons de Álvaro e Pampilhosa, de doação do tabeliado desses lugares e termos a João de Aguea, morador da Certa, ... (raríssimo doc inédito do Infante D. Henrique) / Autógrafo e provas tipográficas das Cartas de Fradique Mendes (correspondência de Fradique Mendes: memórias e notas), de Eça de Queirós

sexta-feira, 28 de maio de 2004


Leilão de Livros e Desenhos Gravuras e Manuscritos da
Biblioteca Salema Garção - Dias 31 Maio, 1 e 2 de Junho (21 h]


Local: Amazónia Lisboa Hotel - Pedro de Azevedo Leiloeiro/Livreiro

Os desenhos, gravuras e manuscritos pertencentes à Biblioteca Salema Garção que vão à praça nos dias 31 de Maio e, depois, no dia 1 e 2 de Junho são notáveis. O conjunto de manuscritos, a licitar no último dia, e uma vasta documentação de documentos régios "testemunhos de sete séculos de história ... são quase todos inéditos" (Susana Tavares Pedro, in Catálogo), podendo ser "o conjunto mais importante de que há notícia nas últimas décadas" (idem), o que só por si torna surpreendente pela raridade este leilão. O último lote a ir à praça, um conjunto valioso de autógrafos, manuscritos e provas tipográficas das Cartas de Fradique Mendes, de Eça de Queirós, é apresentado no Catálogo por Anabela Rita, da Universidade de Lisboa, num admirável texto interpretativo [As Metamorfoses de Fradique] do poder e da escrita queirosiana, que a documentação do lote possibilita, como se de um "laboratório" se tratasse. Um leilão excepcional, um catálogo importante e estimado. A não perder.

Algumas referências: O Cocheiro Instruído, ou breve instrucçaõ aos cocheiros, bolieiros, e mais criados, sobre o modo de se comportar, tanto no que respeita ao ensino dos animais, como da attencaõ devida aos seus amos, por Custódio José de Albuquerque, Lisboa, 1792 / Os Gatos, de Fialho de Almeida, 57 nums em VI vols / Da Ásia de João de Barros e Diogo Couto, n. ed., Lisboa, 1778-88, 23 vols / Histoire du Brésil, depuis sa découverte en 15000 ..., por Alphonse Beauchamp, 1815, III vols / Os Estrangeiros do Lima ..., de Manuel Gomes de Lima Bezerra, Coimbra, 1785-91, II vols / Boletim da Sociedade de Bibliófilos Barbosa Machado, 1912-1917, IV vols (anos) / A set of prints engraved after the most capital painting in the collection of Her Imperial Majesty The Empress of Rússia ... , de John & Josiah Boydell, 1788, II vols / Crystalisações da Morte, por Eugénio de Castro, 1884 (1ª obra do autor) / Descripcaõ topografica e historica da cidade do Porto ..., por Agostinho Rebelo da Costa, 1789 / Lotes de Desenhos e Gravuras [Helena Roque Gameiro, Almada Negreiros, Bordalo Pinheiro, Luís Salvador, Stuart Carvalhais, etc] / Brasões da Sala de Cintra, de Anselmo Braamcamp Freire, 1899-05, III vols / 10 Xilogravuras de Manuel dos Santos Cabanas (mosteiro Alcobaça, Painéis S. Vicente, etc.) / 5 litografias de Caricatura Política ("provavelmente publicadas em A Matraca: periódico moral e político", Lisboa, 1847) / Gravura de um leilão de escravos em Goa (Ion Linschoten), 1596 / 12 gravuras de William Hoggart / Litografia de Lisboa (A Feira Franca na Avenida da Liberdade, subs. De Roque Gameiro, 1898) / 30 Gravuras dos Lusíadas, ed. do Morgado Mateus, 1817 / Ressorreiçam de Portugal e Morte Fatal de Castella ..., por Manuel Homem (1642?, trata-se de uma espécie bibliográfica rara da Restauração) / A general view of the state of Portugal ..., por James Murphy, London, 1798 (celebre livro estrangeiro sobre Portugal, com 15 gravuras) / Manejo real, escola moderna da cavallaria da brida, em que se propoem os documentos mais sólidos, para os cavalleiros ..., por José de Barros Paiva e Morais, Lisboa, 1762 (famoso tratado de cavalaria, ilustrado com gravuras)

[Continua]

In Memoriam José Augusto Seabra [1937-2004]


"Cai-me
a tristeza aos pés

E não me baixo
" [JAS, in Os Sinais e a Origem]

José Augusto Seabra nasce em Vilarouco (S. João da Pesqueira)em 1937. Forma-se em Direito na Universidade de Lisboa. Convicto opositor ao Estado Novo (fez parte do MUD Juvenil, conhece Humberto Delgado em Argel), preso e condenado por motivos políticos, tira o doutoramento em Letras na École des Hautes Études de Paris(1971) com uma tese sobre Fernando Pessoa (Analyse structurale des hétéronymes de Fernando Pesssoa: du poémodrame au poétodrame) e sob orientação de Roland Barthes do qual traduziu vários livros), tornando-se professor em Vincennes. Regressa a Portugal a seguir ao 25 de Abril de 1974, para leccionar na Faculdade de Letras do Porto. Poeta, escritor, ensaísta, diplomata (embaixador junto da Unesco, em Bucareste e Buenos Aires), colaborador em jornais e revistas (jornal República, jornal Povo Livre, revista Nova Renascença, Persona, Bandarra, Coordenada, Cadernos de Literatura, Colóquio-Letras, Gazeta Literária, Notícias do Bloqueio, Raiz e Utopia, Sílex, Vértice) foi fundador do Centro de Estudos Pessoanos (juntamente com António José Saraiva e Maria Glória Padrão) e do Centro de Estudos Semióticos e Literários, deputado à Assembleia Constituinte, Assembleia da República e Ministro da Educação do IX Governo Constitucional (1983-1984: tendo sido substituído por Deus Pinheiro), integra o Centro de Estudos Republicanos «Sampaio Bruno» e é um dos fundadores da Associação de Lusofalantes na Europa (ALFE). Morre a 27 de Maio de 2004.

"Pela noite o desejo luminoso respira
o hálito dos frutos, o rumor
dos dedos. Pela noite emudece
o silêncio das pálpebras. Os ombros
de maduros se inclinam. Pela noite
a morte desce membro a membro a alma
" [JAS, Nocturno]

"O civismo implica ... uma cultura, que poderemos designar como cívica, sem que esta se sobreponha às outras formas de cultura, antes delas seja condição e suporte. A aprendizagem da democracia exige com efeito que a formação e a realização de cada homem se abra aos mais diversificados domínios do conhecimento e da criatividade: desde a economia às questões do conhecimento, desde a filosofia e a ciência às várias manifestações estéticas, passando por uma ética de convivência assente no respeito dos direitos do humanos, tudo isso deve enfermar a personalidade de uma cidadão que se deseje culto e, portanto, politicamente esclarecido" [JAS, in Cultura Política ou a Cidade e os Labirintos]

Alguma Bibliografia:

[Poesia] - A Vida Toda, Porto, 1961 / Os Sinais e a Origem, Portugália, 1967 / Tempo Táctil, Portugália, 1972 / Desmemória, Porto, Brasília, 1977 / O Anjo, Porto, 1980 / Gramática Grega, Porto, 1985 / Fragmentos do Delírio, Ponta Delgada, 1990 / Poemas do nome de Deus, Macau, 1990 / Epígrafes, Málaga, 1991 / Enlace (em colaboração com Norma Tasca), 1993 / Sombras de Nada, 1996 / Amar a Sul, 1997 / Conspiração da Neve, Bucareste, 1999 / Oximoros, Porto, Granito, 2001 / Antologia Pessoal, Brasília, Thesaurus Editora, 2001 / Tangos Mentais, 2002

[Ensaio & Outros] - Fernando Pessoa: le retour des dieux, Paris, 1973 / Fernando Pessoa ou o Poetodrama, São-Paulo, 1974 / Portugal face à Europa: um horizonte cultural, Porto, 1977 / Alexandre Herculano ou a Cicatriz do Exílio, Porto, 1977 / Poiética de Barthes, Porto, 1980 / Um romântico no Porto, Porto, 1982 / Mors- Amor (Paixão de Barthes), Porto, 1982 / O Heterotexto Pessoano, Dinalivro, 1985 / A Pátria de Pessoa ou a Língua Mátria, Porto, 1985 / Cultura e Política ou a Cidade e os Labirintos, Vega, 1986 / Discurso cultural de D. António : um diálogo entre a fé e a cultura, Porto, 1990 / Manifesto dos emigrados da Revolução Republicana Portuguesa de 31 de Janeiro de 1891, Porto, 1991 / Poligrafias Poéticas, Porto, 1994 / O Coração do Texto novos ensaios pessoanos, Lisboa, 1996 / Edição crítica de Mensagem e Poemas Esotéricos de Fernando Pessoa (1993) / Tradução de Poemas de Mallarmé Lidos por Fernando Pessoa (1998) / Caminho Intimo para a Índia, 1999 / De Exílio em Exílio I - Resistências e Errâncias (1953-1963), Folio Edições, 2004

"Tudo se cumpre exacto como o voo
das gaivotas rasando rente ao rio:

súbitas asas ousam, quase pousam
na água da memória. Assim o exílio
" [JAS, Asas, in Tempo Táctil]

quinta-feira, 27 de maio de 2004


F. C. do Porto: uma Lição Magistral

A credibilidade do FCP deixou há muito de ser um ponto de interrogação. A respeitável tradição de exaltação dos dois clubes da capital é hoje uma deliciosa manifestação de eloquente provincianismo, que só os fundamentalistas ainda instigam. O FCP, artesão, profissional, responsável, crente, impiedoso e praticando um futebol colectivo, conquistou, definitivamente, o coração dos desportistas. Estes dois anos, com generosidade, foram dos maiores êxitos para a glória futura do clube. Hoje, então, foi magistral. A coisa resume-se a isto: o FCP soube ser moderno, apostando em novas soluções, outros riscos. A simplicidade daí decorrente, conduziu a um desempenho imaculado. Quando outros - caso do meu Benfica - foram progenitores de asneiras sem fim - vide a novela de Toni/Vilarinho, a vergonha do soez ataque a um Presidente cessante ou, no lado de Alvalade, a lógica injuriada de Sá Pinto quando da possível contratação de Mourinho e/ou as aleivosias dos seus adeptos sobre o mesmo cenário -, o clube das Antas, com a maior da naturalidade, atreveu-se a ser inteligente. Contratou um técnico profissionalmente exemplar, um naipe de jogadores dispostos a trabalhar para vencer. A perfeição foi conseguida. Hoje demonstrou-o mais uma vez. Parabéns!

quarta-feira, 26 de maio de 2004



Pushkin [1799-1837]

n. em Moscovo a 26 de Maio de 1799

Não morrerei de todo - pois que no meu canto,
sem corpo corruptível, soarei altivo.
E o meu renome imenso durará enquanto
houver na terra um poeta sobrevivo



"O homem que outrora fui, o mesmo ainda serei:
leviano, ardente. Em vão, amigos meus, eu sei,
de mim se espere que eu possa contemplar o belo
sem um tremor secreto, um ansioso anelo.
O amor não me traiu ou torturou bastante?
Nas citereias redes qual falcão aflante
não me debati já, tantas vezes cativo?
Relapso, porém, a tudo eu sobrevivo,
e à nova estátua trago a mesma antiga of'renda..."

[Pushkin, «O Homem que outrora fui...», in Poesia de 26 Séculos, Fora Texto, 1993]

Locais: Pushkin's Biography / The Pushkin Page / Aleksandr (Sergeyevich) Pushkin (1799-1837) / Alexander (Aleksandr) Pushkin / Pushkin Genealogy / Alexander Pushkin / Alexander Sergeevich Pushkin / Aleksandr Sergeevich Pushkin (1799 ? 1837) / A Collection of Poems by Aleksandr Pushkin / Pushkin' Poems

Terra Livre [nº 1, 13 de Fevereiro de 1913]

"...O semanário «Terra Livre», claramente integrado na corrente anarquista do movimento operário, foi porventura um dos jornais de maior qualidade produzido pelo movimento operário português. Com oito páginas num formato aproximado ao «tablóide» ... publicava-se às quintas-feiras e tinha como director Pinto Quartin e como editor Jaime de Castro. O seu primeiro número tem a data de 13 de Fevereiro de 1913 e na própria definição de propósitos e objectivos, «Terra Livre» afirmava: «órgão de luta social e económica - tribuna amplamente aberta às revindicações dos trabalhadores - análise e comentário dos factos capitais da vida social e política portuguesa» (...)
«Terra Livre» vai centrar boa parte do seu conteúdo numa crítica sistemática e contundente à República, ao parlamentarismo e à acção desenvolvida por Afonso Costa quer como líder do maior dos partidos republicanos quer como Presidente do Ministério que tomara posse a 9 de Janeiro de 1913 ... Esta orientação, de crítica contundente e por vezes demolidora de «Terra Livre» à recém implantada República, inseria-se de resto numa acção de crítica sistemática que Neno Vasco um dos mais conhecidos e importantes redactores, vinha exercendo desde os começos de 1911 (...)
Como escreveu Pinto Quartin, «Terra Livre tem pouca circulação entre a massa operaria» o que confirma a ideia de que o público a que primordialmente se destinava o semanário [cerca de 3.500 expls semanais] era constituído pela fracção dirigente do movimento operário, por estudantes e empregados de comércio de Lisboa, por leitores com certa formação e certa capacidade de análise (...) O semanário sofre, ao fim de poucos meses de vida, as consequências da repressão republicana que se seguiu à explosão de uma bomba na cauda do cortejo que, a 10 de Junho de 1913, comemorava Camões. Pinto Quartin é preso e expulso do país [irá para o Brasil], muitos dos seus colaboradores e redactores são detidos e o fim do «Terra Livre» chegou ... " [César de Oliveira, in Antologia da Imprensa Operária Portuguesa, P & R, 1984]

Alguns colaboradores: Vieira dos Santos, Neno Vasco, Emílio Costa, Gaspar dos Santos, Rui Forsado, Emília Garrido, Pinto Quartin, Sobral de Campos, Adolfo Lima, [cf, César de Oliveira ]
Leilão de Importante Biblioteca - 26 de Maio de 2004 [conclusão]

Algumas referências: O Anthi-Christo, por Gomes Leal, 1884 / O Bando Sinistro. Appelo aos Intellectuaes Portuguezes, por Raul Leal, Barcelona (raro) / Sodoma Divinisada, por Raul Leal, 1961 (ed. Contraponto) / O que aconteceria se o Arcebispo de Beja fosse ao Porto e dissesse que era Napoleão, folha volante de Mário Henrique-Leiria (raro) / Mais um Cadáver, por M. Henrique-Leiria, 1951 / Para bem esclarecer as gentes que ainda estão à espera, os signatários vêm informar ..., de M. Henrique-Leiria & Cesariny de Vasconcelos, 1951 (raro) / A Industria do Sal em Portugal, por Charles Lepierre, 1935 / Aviso a Tempo por Causa do Tempo, de António Maria Lisboa, 1953 (raro) / Isso Ontem Único, de A. Maria Lisboa, 1953 (raro) / A Verticalidade e a Chave, por A. Maria Lisboa (ed. Contraponto, raro) / [Manuscrito] Espólio de Acúrcio Pereira (cartas e cartões de escritores) / As Avelãs do Cesariny, por Fernando Ribeiro de Mello (folha volante "violenta" contra Cesariny feita pelo editor da Afrodite, por Cesariny se ter recusado a traduzir e prefaciar a Correspondência do Marquês de Sade) / A Arte de Escrever, por Vitorino Nemésio (sep. Instituto), 1928 / Mau Tempo no Canal, de Vitorino Nemésio, 1944 / O Poeta Povo, de Vitorino Nemésio, 1917 (2º livro em prosa do autor, publicado em Angra do Heroísmo) / Requiem Alegre para Cesariny, por Rui de Oliveira, Porto, 1959 (manifesto violento contra Cesariny) / Aldrabona Madona Maxona, por Luiz Pacheco, 1975 / Alguns Mitos Maiores, Alguns Mitos Menores Porpostos à Circulação. Cesariny ex-nudista em franca ascenção para as coroas ..., de Luiz Pacheco / O Cachecol do Artista, de Luiz Pacheco, 1965 (raro) / Comunicado ou Intervenção da Província, de Luiz Pacheco (raro) / Contraponto. O Prato do Diabo. Leitura dos Jornais, 1961 (reprod. em stencil), de Luiz Pacheco / Postal. Felizarda Botelha, de Luiz Pacheco (raro) / Requiem pelos Corpos Penados mais em Destaque no Cemitério Ulissiponense, de Luiz Pacheco, 1961 (raro) / Salve Van Kricka!, de Luiz Pacheco (folha volante) / Clepsydra, de Camillo Pessanha, 1920 (raro) / 1ª Exposição dos Surealistas (1949) / Luz Central, de Ernesto Sampaio, 1958 (raro) / XX Dessins, de Amadeo Sousa Cardoso, 1912 (raro) / Os Surrealistas Expõem (1949, rara folha volante) / Obras valiosas de Cesariny (Contraponto. Série Fantasma, 1960 ; Do Capitulo da Probidade, 1951, etc. )

terça-feira, 25 de maio de 2004

Leilão de Importante Biblioteca - 26 de Maio de 2004

A Leiria & Nascimento organiza no próximo dia 26 de Maio (21, 30 h) no Pavilhão de Exposições (Tapada da Ajuda) um leilão de livros provenientes de uma importante biblioteca, salientando-se um conjunto significativo de obras de literatura portuguesa moderna, que pode ser consultada on line.

Algumas referências: Mar-de-Leva, de Al Berto, 1976 (raro) / Adolescente, por Eugénio de Andrade, 1942 / Poema Primeiro, de António Aragão, 1962 / Memoria sobre a Pesca do Bacalháo Offerecida á Companhia de Pescarias Lisbonenses, por Jacob Frederico Torlade Pereira d'Azambuja, 1935 (raro) / Apontamentos para o Error do Mundo e Os Homens na Sombra, por R. Azancot, II vols, 1910 / Guide du Libraire, por J. de Beauchamps, Paris, 1884 / Memorias e Observações sobre o modo de aperfeiçoar a manufeactura do azeite de oliveira em Portugal, de João António Dalla Bella, 1786 (raro) / O Correio Interceptado, por José Ferreira Borges, Londres, 1825 (publ. anónimo) / Manuel du Libraire et de L'Amateur de Livres, por J.-C. Brunet, VIII vols, 1922 / Oeuvres Complètes de Buffon, XII vols, 1853 / O Cadáver-Esquisito, 1925-1975. Sua exaltação seguida de pinturas colectivas [tir. Especial comemorativa do meio-seculo da Revolução Surrealista, de apenas 20 exempls, com textos de M. Henrique-Leiria, Calvet da Costa, Cesariny, O'Neill, Raul de Carvalho, Ernesto Sampaio, etc. Raro] / Os Lusíadas de Luis de Camões, ed. do III Centenário, de publ. de Emílio Biel, 1880 / Discurso Moral e Politico sobre os Contrabandos, pelo Fr. Ignácio de S. Carlos, 1814 (raro) / Mas, de Ferreira de Castro, 1921 [raro] / Les Principales Avantures d'Admirable Don Quichotte ..., de Cervantes, 1746 / Conjunto valioso de 15 Obras de Ruy Cinatti (Borda d'Alma, 1973; Cravo Singular, 1974; Folhas Volantes, 1974-77; Salém, 1987; etc.) / Contravento, Revista Letras e Artes, IV nums, 1968-71 / Do Do. (D. Sidónio). S. Nacional de Belas Artes, 1982 [Catálogo com apresentação de Eurico Gonçalves e poesia inédita de Luiza Neto Jorge] / Exame e Juízo Critico sobre o papel, intitulado Antisebastianismo, anunciado na Gazeta de Lisboa ..., 1809 (anon.) / Hora di Bai, de Manuel Ferreira, Coimbra, 1962 / Uma Viagem ao Valle das Furnas na Ilha de São Miguel, por Bernardino José de Senna Freitas, 1845 [monografia rara] / Galeria de A Bibliófila. Catálogo da Exposição de 1 de Junho de 1950, da Livraria A Bibliófila [raro catálogo com trabalhos de M. Henrique-Leiria, Cesariny, Cruzeiro Seixas, Risques Pereira, etc.] / Grifo. Antologia de Inéditos, Grafilarte, 1970 [import. antologia com textos de Pedro Oom, António José Forte, Ernesto Sampaio, Manuel de Castro, etc.] / Conjunto valioso e raro do poeta Herberto Helder [O Bebedor Nocturno, 1968; A Colher na Boca, 1961; Electronicolirica, 1964; Fonte, de Herberto Helder, 1998 (ed. fora de mercado); Húmus, 1967; Lugar, 1962; Retrato em Movimento, 1967; etc] / Memoria sobre Lourenço Marques, de Levy Maria Jordão (Visconde de Paiva Manso), 1870

[continua]

segunda-feira, 24 de maio de 2004



Obras de Ferreira de Castro

Ferreira de Castro [1898-1974]

Nasce em Ossela (Oliveira de Azeméis) a 24 de Maio de 1898

"... Era de Inverno. Ia de chancas, friorento, enroupadito. Creio que foi minha mãe quem me acompanhou até meio do caminho. Não me recordo bem. As lembro-me, nitidamente, da minha entrada na escola. Lá estava, ao fundo, à secretária, instalada sobre um estrado, o Sr. Professor Portela. Era gordo e de carne muito branca e fofa. No primeiro plano, as carteiras com os alunos chilreantes. Alguns conhecia-os eu cá de fora. Mas tomavam, ali, para minha timidez, o papel de inimigos.
Eu sentia um respeito enorme por tudo aquilo e estava envergonhado. Sentei-me a uma das carteias e, não tendo coragem de levantar os olhos, fixei-os no abecedário, que crescia e de deformava constantemente. Nesses primeiros dias, a minha única distracção era seguir as moscas que passeavam no sujo rebordo do tinteiro.
Veio, depois, a inveja, a única que tive na minha vida: a de não ser igual aos outros, a de não possuir o seu à-vontade, a de não ter o sangue-frio de que eles dispunham e graças ao qual brilhavam nas lições mais do que eu, embora soubessem menos. Eu era bom aluno. Tinha, porém, uma existência triste e afastava-me quase sempre dos meus condiscípulos. (...)

Por esses tempos, passava, todos os dias, no largo para onde dava a escola, uma rapariga de 17 ou 18 anos - linda, linda para mim, como nunca tinha visto outra. Chamava-se Margarida (...) a Margarida continuava a cruzar, indiferente o largo, sem voltar os olhos para a janela da escola, de onde eu a seguia com sofreguidão. E se me fazia encontrado no caminho por onde ela passava, voltava a cara sem dirigir à minha timidez uma só palavra, um olhar sequer. Eu sofria com esse desdém e desesperava-me por ainda não ser homem. (...)" [Ferreira de Castro, Memórias in «Vários Estudos sobre Ferreira de Castro e a sua obra», 1938]

"A obra de Ferreira de Castro é como a de um filósofo pastoral: vive da resistência que faz às desgraças do seu século. Por isso, como a de Rousseau, parece-nos ingénua quando a moda è libertina; e é naturalmente afectiva e cordial quando toda a literatura experimenta a necessidade de incorrer em excessos. Vemos agora que essa obra preparava a clarificação duma nova era. (...) Ferreira de Castro era um desses heróis-meninos, incapazes de corrupção, por muito que sofram e conheçam o mundo. O pudor, quase o que se chamaria a nobreza dum preconceito proletário, nimbava os seus romances e narrativas. Se vivesse mais tempo, acharia os costumes insuportáveis, agora que certa debochada sinceridade, própria duma erudição sentimental e não de uma cultura cerebral, toma o lugar da experiência humana (...) [Agustina Bessa-Luís, in In Memoriam de Ferreira de Castro, 1976]

sexta-feira, 21 de maio de 2004


Infância

Hora em que a erva cresce
na memória do cavalo.
O vento pronuncia discursos ingénuos
em honra dos lilases,
e alguém entra na morte
com os olhos abertos
como Alice no país do já visto.

[Alejandra Pizarnik, trad. de There's Only Alice]

Filhos e 'Encalhados'

"Nada é mais atraente que as coisas desonestas" [Ovidio]

Confessamos a maneira branda e suave com que José Manuel Fernandes, o comissário dos bons costumes lusos, nos brindou em artigo nas páginas d'O Público sobre a magna questão da necessidade de aumento da taxa de natalidade. Em perfeito acesso de orgulho sociológico, o pontífice diz-nos que ... não temos cumprido. Mais, que a "atitude cultural dominante em Portugal" é decididamente o tão importuno modo de "viver a vida" e, evidentemente, "desvalorizar aquilo que os filhos trazem". A listagem caprichosa é quase apocalíptica. Tememos pelo nosso aconchego e suspiramos por um bom "boudoir". Para "repor as gerações".
Venha pois a sexualidade, ou a sua descoberta para os 'encalhados' desta vida, mas entendida como expressão elevada de reprodução biológica, para que a dissolução do princípio do hedonismo (t'arrenego Lyotard) se esfrangalhe, a bem da Nação. E deixemos o amor, sempre esse combate, sempre essa angústia (Bataille dixit), sempre essa ilusão, para outros. Toca, pois, a cumprir. E nós, sabendo que Sade morreu e Reich também, não nos encontramos muito bem. Mas iremos cumprir. Não tenham dúvidas.

Tommaso Campanella [1568-1639]

m. em Paris, a 21 de Maio de 1639

"...Todos determinaram, então, começar uma vida filosófica, pondo todas as coisas em comum. E, se bem que em seu país natal não esteja em voga a comunidade das mulheres, eles a adoptaram unicamente pelo princípio estabelecido de que tudo devia ser comum e que só a decisão do magistrado devia regular a igual distribuição. As ciências e, em seguida, as dignidades e os prazeres são comuns, de forma que ninguém pode apropriar-se da parte que cabe aos outros.
Dizem eles que toda espécie de propriedade tem sua origem e força na posse separada e individual das casas, dos filhos, das mulheres. Isso produz o amor-próprio, e cada um trata de enriquecer e aumentar os herdeiros, de maneira que, se é poderoso e temido, defrauda o interesse público, e, se é fraco, se torna avarento, intrigante e hipócrita. Ao contrário, perdido o amor-próprio, fica sempre o amor da comunidade (...)" [T. Campanella, in A Cidade do Sol]

quinta-feira, 20 de maio de 2004

[Sombra]

O mal não é a lama dos vestidos,
nem os limos, os líquenes dos sentidos.
O mal é esta sombra
que se deita connosco em cada cova,
se penteia connosco em cada dia
e, quando amamos, surdamente espia ...

[Orlando de Carvalho, Sobre a Noite e a Vida, 1985]