terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O VENCEDOR CRISPADO


"O cérebro é uma coisa magnífica … todos deveriam ter um"

O vitorioso dr. Cavaco, no entusiasmo febril do cartaz da noite eleitoral e excitado na glória da tribuna popular, comiciou aos incréus, fazendo o seu último tour de force político. E virou espectro, qual censor aos vassalos. De vassoura em punho caluniou-se, com rara distinção. Para os mais jovens, como se um mestre-escola fora, aludiu "verdade" & "transparência" na política, imprudentemente amnésico. De punhal à cinta, nada tolerante, vociferou pela honra e carácter, qual demagogo disfarçado, esquecido das indulgências durante o período eleitoral, mesmo com ele próprio. Para a posteridade folheou a alma dos adversários, vergastou 75% dos eleitores indígenas, em curiosa e áspera domesticação folhetinesca. Virou panfletário. Fez história. Intriga. Sem se nunca maçar.

Curiosamente, o pouco piedoso dr. Cavaco - aquele que no íntimo da sua alma publicitou ser o único nativo que dominava os areópagos financeiros internacionais e a crise mundial, avisando (de dedo em riste) que ou se resolvia já a questão da eleição presidencial ou vinha dos céus "uma contracção do crédito e uma subida das taxas de juro" –, assistiu ironicamente, um dia depois da sua divina eleição, a mais um "nervosismo" dos mercados e correspondente subida da taxa de juro, aumentando as dúvidas de default de Portugal. Suprema ironia de um putativo economista traído pela profunda e fatal economia.

Na verdade, como diria o nosso Eça, "a política é a ocupação dos ociosos, a ciência dos ignorantes, e a riqueza dos pobres". Restará acrescentar ao político a crispação. E a estes pobres dias, o burlesco que tudo isto encerra. Di meliora.